A minha alma está parva. É o que consigo dizer para já.
Estive durante uma semana colada, completamente colada e incrédula, a 589 páginas.
Começo mesmo pelo início dos inícios...embora seja uma pessoa que goste bastante de ler, sempre tive um bocado receio de autores portugueses, ainda para mais porque hoje em dia toda a gente escreve um livro desde que o pai tenha dinheiro para pagar a uma editora. Grande parte das editoras já vê o trabalho facilitado. Mas não é o que está no objectivo da conversa. Não sei porquê sempre fui desconfiada em relação a autores portugueses, já li muitos que gostei, outros que gostei menos e outros que simplesmente detestei, assim como já aconteceu com autores estrangeiros. Até à data sou fã incondicional do João Tordo, que é português, novinho e parece que tem qualquer coisa de mórbido naquela mente, o que é muito bom para as histórias que escreve.
Desta vez, e porque me apeteceu sem razão aparente, em vez de ir à minha pilha de livros que estão por ler, fui a mesa de cabeceira da minha mãe, que são os mesmos livros desde há 8 anos para cá, até porque o que acaba por acontecer é eu tirar de lá, ler e meter no meu quarto e ela quando se lembra (muito raramente) vai lá buscá-los. Adiante, dei comigo a ver a A Mão do Diabo de José Rodrigues dos Santos. Já tinha lido umas críticas de um jornal que o classificava como o Dan Brown português, o que não é nada mentira. Mas para além dessa parte verdadeiramente ficcionista está a parte verídica que é descrita no livro, com argumentos, nomes e dados reais sobre a crise.
Sou a pessoa mais leiga sobre economia e política que se pode conhecer, e admito que não faço esforço nenhum, mas mesmo nenhum. Mas ando cansada de ouvir as pessoas queixarem-se da crise para aqui e para ali, muitas percebendo tanto da crise quanto eu, só pelo que se vê ou se ouve...mas já parámos para pensar que os nossos media jogam para um lado? O lado que lhes convém, como é óbvio...ainda há dias me apercebi disso, eu que sou eu, a pessoa que liga 0 a notícias. Mas aquando o incidente na Bela Vista aqui em Setúbal, na tarde que falaram ter havido grandes confrontos nas ruas e etc etc, passei por lá, não porque queria, mas porque tem que ser, o pavilhão dos treinos é para aqueles lados e passo mesmo no sítio onde se deu o despiste do rapaz...tenho a dizer que na tarde de turbulência anunciada na televisão reinava a paz mais calma naquele local. Mas à noite quando vi as notícias não...tinha havido uma mini-guerra civil...engraçado...deve ter sido em outro bairro...
O que me faz não ligar muito a campos como política e economia é o simples facto de que não posso criticar porque não sei fazer melhor. Não percebo patavina nem de uma coisa nem de outra.
Este livro que acabei hoje dá uma explicação da crise e de conceitos e definições que eu bem que ouvia falar mas é o mesmo que vos falar de um pião exterior frente, interior trás, um ritberg ou um salshow, é tipo WTF?!
É, não é?
Pois, assim sou eu com PPP's, IRC, IRS, IVA, dívida pública, dívida privada, derivados e afins... (Atenção, tudo vocabulário aprendido no telejornal e livro em questão). A verdade é que fiquei com algumas luzes e as coisas já não são tão pretas assim. Consegui perceber a relação dos países com a crise, com o euro, com a comissão europeia. Não é nada mau... já tirava um 10 acho eu.
A parte mais ficcional do livro é a existência de um Tribunal Penal Internacional em que está a decorrer a audiência para conhecimento dos responsáveis pela crise a serem julgados por crimes contra a humanidade.
Sim, deveria existir, mas como se pune os soberanos de um país? Carregados de imunidade política e jurídica? Corruptos até mais não. Pois...não são...porque se protegem uns aos outros. Porque apenas pensam em ser reeleitos.
E somos nós, e os nossos votos em branco ou simples facto de nem votar, que ajudamos a que isso aconteça. Sim, é bonito criticarmos, é lindo dizermos que estamos muito mal e ai jesus que o Mundo vai acabar. Pois, mas enquanto houver gente que recusa trabalhos porque tirou um curso em Direito e aí que vergonha ir carregar caixotes numa empresa de congelados, e preferir viver à custa dos subsídios, aí sim o Mundo vai acabar. Enquanto formos estúpidos e mantivermos estúpidos nos altos cargos. Enquanto formos tão parvos que não olhemos para bons exemplos como a Islândia, que conseguiu superar o colapso dos seus três maiores bancos, voltar ao mercado internacional e baixar significativamente o desemprego. Porque somos tão casmurros assim?
Na minha ideia, somos simplesmente autênticos velhos do Restelo, nada fazemos, criticamos e agoiramos, e ainda atiramos para o ar, convictos de razão, que descobrimos grande parte do Mundo! Pois, e quanto dessa metade conseguimos manter até aos dias de hoje? Exacto. Nós, sentados à sombra da bananeira a dizer que descobrimos o Mundo e a seguir o entregámos de mão beijada. Nós que achamos que por termos descoberto o Mundo está tudo assegurado e já nada precisamos de fazer. Nós que por mais vezes que nos digam que temos má economia vamos sempre responder "mas somos o país mais antigo da Europa".
E depois..pufff...dá asneira.
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