"À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Tem dias que me envergonho de achar que tenho dias horríveis, daqueles que o único pensamento (a seguir ao de "hoje tudo corre mal") é "quando é que o dia chega ao fim?"
Os meus dias maus são sonhos cor-de-rosa para muita gente, e tem dias que me odeio por isso, que se pudesse fazer mais fazia.
Faz hoje uma semana que a Mafalda apareceu no clube para ir experimentar a patinagem, perguntámos "já alguma vez patinaste?" "Não." "E alguma vez viste estes meninos a patinarem em algum sítio?" "não..."
A Mafalda não conhecia o clube, não conhecia a patinagem se não da televisão, mas quando a mãe perguntou se queria ir para a dança a Mafalda respondeu que não, a mãe tentou novamente mas com patinagem e desta vez a Mafalda disse que sim.
Está connosco há uma semana, tem oito anos, está no 2º ano e é uma criança como outra qualquer, ri muito, conversa muito, dança muito, corre e faz o que nós lhe pedimos sempre com um sorriso na cara, apesar de tudo tem algum medo de cair e por isso esta sua semana na patinagem ainda é muito fresquinha e sem grandes aventuras.
A Mafalda teve um tumor cerebral. Deixou de andar.
Não sei ao certo há quanto tempo atrás foi isto, mas para uma criança de 8 anos será sempre recente pois não tem vida que chegue ao "há muitos anos atrás".
Eu acho incrível a sua vontade de arriscar, pouco de cada vez mas arrisca, esta sua vontade de quem voltou a aprender a andar e mais que isso quer aprender a andar de patins, pondo à prova toda a sua capacidade motora e mental também. Acho incrível o sorriso que ela nos lança cada dia que nos vê, e a sua conversa como se fosse da nossa idade, não se atrapalha com palavra alguma, nem com dificuldades a falar, nadinha, é uma pessoa crescida que tem conversas de gente crescida, e tem oito anos.
Aos oito anos a minha preocupação maior foi ter partido a cabeça da minha melhor amiga sem querer, era a patinagem, e eram os trabalhos de casa para conseguir ter o fim-de-semana livre e ir para casa das amigas. Aos oito anos ninguém deve ter já no seu curto histórico de vida a luta contra um tumor, não, isso não é coisa de criança. Aliás, não devia ser coisa de ninguém, mas de criança muito menos.
Os meus dias maus não são nada em comparação com alguém de oito anos que tem que ter cuidado com tudo o que faz, quando a sua única preocupação devia ser a de brincar demasiado.
A Mafalda é um exemplo, pela sua força e vontade, pelo seu sorriso.
E como ela existem outros tantos.


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